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quinta-feira, 15 de maio de 2025
Computação quântica será um novo bug do milênio
Até o final da década, os computadores quânticos terão poder suficiente para quebrar os sistemas de criptografia mais seguros usados hoje na proteção de dados no mundo inteiro. É o que alerta Ana Paula Appel, engenheira sênior de inteligência artificial e embaixadora de Computação Quântica da IBM, em uma entrevista durante o Summit Tecnologia e Inovação, realizado pelo Estadão nesta quarta-feira, 14.
A declaração chama atenção porque não se trata de ficção científica, mas de um prazo técnico com base em projeções já reconhecidas pela comunidade científica: 2030. A especialista menciona o bug do milênio como uma analogia para explicar a urgência da migração dos sistemas de segurança digital antes que a computação quântica os torne obsoletos - o que ela chama de "quantum safe".
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"Dependendo do número de aplicações, você leva alguns anos para trocar tudo. Daqui seis anos já será 2031, vai ter passado o prazo", alerta.
De acordo com Appel, a IA será essencial nesse processo de percorrer as aplicações, achar as chaves, refatorar e fazer a troca do sistema criptográfico. Ela alerta, contudo, que instituições e empresas ainda possuem muito "software legado", sem atualizações, que podem dificultar esse processo.
A especialista falou sobre os avanços da empresa no desenvolvimento de hardware quântico, que exige laboratórios super-resfriados e ambientes controlados. "É um computador que não cabe na sua casa, ele precisa de um ambiente mais frio que o espaço sideral", brinca.
A computação quântica funciona com princípios diferentes da tradicional: em vez de bits (zeros e uns), usa qubits, que podem estar em sobreposição de estados, entrelaçados e sujeitos a interferência. "Você consegue percorrer vários caminhos de solução ao mesmo tempo", explica.
Um Pac-Man com múltiplas dimensões
Ela recorreu novamente a analogias para explicar a lógica por trás de seu funcionamento. "Imagine Pac-Man, em que você só consegue percorrer um caminho por vez", explica. "Na computação quântica, você consegue percorrer mais de um caminho ao mesmo tempo, testando diferentes possibilidades simultaneamente", o que explica a ineficiência do atual sistema criptográfico, baseado em senhas, diante da tecnologia.
A computação quântica já existe e usa a mesma linguagem de programação que a computação tradicional como Python. O computador quântico da IBM, por exemplo, tem nove anos. Contudo, não há ainda mercado para que sua produção em escala faça sentido.
Segundo Ana Paula, a promessa da computação quântica é acelerar descobertas em áreas como desenvolvimento de medicamentos, novos materiais e soluções para problemas complexos em logística, energia e finanças.
Na visão de roadmap, acredita-se que em 2026 os pesquisadores consigam mostrar uma "vantagem quântica", como usar o computador para resolver um problemas reais. Contudo, até o momento, isso ainda está sendo investigado.
Ana Paula afirma que a IA será beneficiada pela computação quântica. "Nas redes neurais você tem multiplicação de matrizes, que são custosas para um computador tradicional. Acredita-se que a computação quântica possa tornar algumas dessas grandes redes mais eficientes."
A especialista garante, porém, que a computação tradicional não vai ser substituída. "Você vai ter um tipo de computação quântica para algumas dessas tarefas. Nós vamos continuar resolvendo da mesma maneira em muitos casos."
Fonte: ESTADÃO
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